31 agosto 2021

Ensaio de golpe no dia 7 de setembro assusta democratas de ocasião

Se no passado apoiaram a ditadura, hoje eles a rejeitam, porque prejudicaria seus negócios. Menos mal que seja assim

Foto: Orlando Brito

Por Ricardo Noblat

Quatro parágrafos, 183 palavras e um sujeito oculto, o presidente Jair Bolsonaro, que a covardia do texto subscrito por mais de 200 entidades do setor produtivo brasileiro esmerou-se em esconder.

Os dois primeiros parágrafos equivalem ao que no jornalismo se chama de “nariz de cera” – um tipo de introdução perfeitamente dispensável que só retarda a abordagem do assunto.

E aí já foram para o lixo 77 do total de palavras. As demais falam em “escalada de tensões e hostilidades entre autoridades públicas” e defendem a “pacificação política” e a “estabilidade institucional”.

Quem tem promovido a escalada de tensões? Fica no ar. Os bolsonaristas poderão dizer que é o Supremo Tribunal Federal, a oposição ao governo que é Bolsonaro.

“O momento exige de todos serenidade”, diz o texto, como se estivesse faltando serenidade aos três Poderes da República. Não é o que se vê. É o presidente quem toca fogo no país.


Nenhuma voz do Congresso e da Justiça reclamou do texto. Bolsonaro vestiu a carapuça, sua tropa entrou em campo e o texto acabou engavetado a pretexto de angariar mais assinaturas.

Esperar-se o que do coordenador do manifesto, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, que até outro dia comportava-se como candidato de Bolsonaro ao Senado?


Agora, Skaf pretende ser candidato de Geraldo Alckmin ao Senado. Alckmin está de saída do PSDB para o PSD de Gilberto Kassab, que entre Lula e Bolsonaro votaria em Lula.


De empresários e banqueiros deste país não se espere outra coisa senão vassalagem ao presidente da República, seja ele qual for. Só deixam de babá-lo quando pressentem sua queda.

Foi assim com Collor, foi assim também com Dilma. Correram atrás de Lula para suplicar-lhe que fosse candidato outra vez em 2014 porque Dilma era mais refratária aos seus pedidos, Lula não.

O compromisso da maioria deles não tem sido ao longo da história com a democracia, mas com o sucesso dos seus negócios. Acumulação acima de tudo! Às favas todos os escrúpulos!


Apoiaram Bolsonaro em 2018 mesmo sabendo de quem se tratava. Para justificar o voto, diziam acreditar que ele se converteria ao liberalismo por obra e graça do futuro ministro da Economia.

Fingiram que estavam diante de um político apenas conservador e não de um reacionário órfão da ditadura de 64. E se fosse mesmo órfão? Eles não apoiaram a ditadura até ela se esgotar?

O fracasso do governante que elegeram ameaça o negócio de cada um deles, daí a chiadeira, daí o medo do golpe anunciado. Se o golpe no passado os beneficiou, hoje os prejudicaria.

São democratas de ocasião. Menos mal que sejam.


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